Contemporâneo da
queda do Homem surge então o conceito de pecado. “Pecado é qualquer falta de
conformidade com a lei moral de Deus em atos, atitudes ou natureza” (Wayne
Grudem, 2001). Poderá estranhar-se que o conceito de pecado apareça sempre em
relação a Deus, mas não é preciso muito esforço para entender que tudo aquilo
que é considerado pecado, ou simplificando, “aquilo que é errado” tem sempre
por trás um padrão declarado pela Palavra de Deus. Um exemplo disso é “matar é
errado”. Quem instruiu que matar é errado? Deus, no primeiro homicídio (Caim e
Abel), mostra como isto é errado e volta a afirmá-lo nos Dez Mandamentos.
Poderíamos debater porque nos regemos pelos princípios bíblicos, mas não há lugar
a isso neste texto, e se a sua convicção é que não há nada que nos obrigue a
respeitar a lei de Deus então a solução é parar por aqui e não ler mais daqui
para a frente.
No anterior post, foi falado que todos pecaram e
todos continuarão a pecar ao longo dos séculos, porque temos o que é chamado de
corrupção herdada, e é sobre isso que nos iremos debruçar. Historicamente,
foram raras as vezes que o povo de Israel estava em conformidade com a lei de
Deus, porque a sua desobediência constante e frágil comportamento levava-os a
pecar e, em Paulo vemos que não passa duma tendência mas sim uma ação duradoura
no estado caído do Homem: “Porque eu sei
que, em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o
querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que
quero, mas, o mal que não quero, esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já
não o faço eu, mas o pecado que habita em mim” Romanos 7:18-20 É natural
para o homem fazer aquilo que está errado, e um exemplo simples é o caso de
tomar o nome de Deus em vão. Isso acontece quando proferimos o nome de Deus sem
necessidade ou sem o pensamento correto, é o “dizer por dizer”. Cada vez que
dizemos “Valha-me Deus” como interjeição desprovido de qualquer significado ou sentimento
estamos a invocar o nome de Deus em vão – isso é pecado. Ou levantar falso
testemunho contra o próximo, o chamado “dizer mal”. Não são poucas as vezes que
o fazemos por intenção pessoal ou porque os outros nos induzem. E na questão do
pecado não há desculpa para o que se fez, porque regra geral aquilo que fazemos
fica à conta da nossa liberdade de ação. Resumindo, seja por motivos
intrínsecos à pessoa, por distúrbios emocionais, seja por pressão do exterior,
sempre existirá alguma altura na nossa vida que faremos o mal ou pensemos o mal
(por exemplo: desejo que alguém seja mal sucedido, ou que morra). Esta é a
nossa natureza moral pecaminosa: o mal é algo que está intrínseco na natureza
humana. Isto não é sinonimo de impossibilidade fazer o bem, porque
culturalmente existem muitas pessoas que tem atitudes boas, mas a nossa natureza
moral de ter pecado em alguma circunstância interna ou externa da nossa vida é
impeditiva da relação primordial com Deus como Adão e Eva tinham no jardim do
Éden. Dito de outra maneira, por natureza não há relação entre homem e Deus,
fruto da nossa natureza pecaminosa, a qual Ele não se pode associar visto que
Ele é santo, e não há comunhão entre luz e trevas.
Podemos comparar
agora com a impecabilidade de Cristo. Embora algumas pessoas discordem da obra
redentora de Cristo, muita gente não é capaz de discordar do tremendo exemplo
que Ele é. E enquanto não falamos de Cristo como Redentor, cabe falar dele enquanto
exemplo supremo colocando-nos ao Seu lado para examinarmos como estamos aquém
da perfeição. Uma das lições que grita pela impecabilidade de Cristo é a
primeira frase exclamada por Ele na cruz: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o
que fazem”. Lucas 23:34 Normalmente, em situações de extrema emoção e dor não há quem
resista a condenar a outrem (ou mesmo a Deus) por tudo o que estão a sofrer.
Ora, com Cristo não foi isso que aconteceu. Perante todo aquele triste aparato,
se fossemos nós não teríamos problemas de inflamar a nossa ira sobre quem nos
estaria a fazer mal, desejar com todas as nossas forças que aquelas pessoas
sofressem na pele aquilo que estavam a fazer, e haveria quem arriscasse a
revolta contra Deus por tal sofrimento. A impecabilidade de Cristo não tornou
aquele momento em um momento de ataque pessoal a quem lhe fazia mal, nem em
momento de revolta e ressentimento, mas o primeiro momento de perdão na cruz.
Antes de morrer para perdoar, o pedido é o perdão pela ignorância. Será que nós
também eramos capaz de perdoar a quem nos faz mal? Eramos tão só capaz de pedir
a Deus para perdoar os outros, sendo nós o veículo de intercessão daquelas
pessoas ignorantes e erróneas? Não o fazemos pelo pecado presente em nós que se
canaliza em rancor e ressentimento. E não há ninguém que o consiga fazer por
natureza. Fica desafio de passar um dia sem pecar para chegarmos a conclusão de
quão corrompidas estão as nossas atitudes, nossos pensamentos e emoções. Apenas
Jesus o conseguiu fazer do início ao fim da sua vida. Mas Ele era o Filho de
Deus.
Sem comentários:
Enviar um comentário